Foto: site 2com
Era um Fiat Palio azul metálico, modelo 2000. A rodovia, em época de feriadão, estava lotada. Claro que, como mandam as leis de Murphy, o fluxo era bem maior no sentido em que o veículo estava. O sentido de quem volta da praia. Mas ela não voltava do litoral, de uma cidadezinha qualquer com cheiro de brisa e de mar. Ela só ia.
Compromissos mil passavam pela sua cabeça. Tinha um horário a cumprir. Já estava matematicamente atrasada. A menos que conseguisse mudar a relação tempo-espaço, não chegaria a seu destino até as 17h. E já eram 16h35min, precisava correr. Precisava urgentemente ultrapassar aquela fileira de tartarugas que se movimentavam com o pesar de quem deixa o paraíso costeiro para se dirigir ao caos dos dias úteis. Mas, determinada, a moça ao volante pisou fundo. 80km/h e menos três carros pra passar. Mais adiante, uma Brasília antiga e caindo aos pedaços, com colchões, bicicletas e malas em cima, reduziu-se à insignificância de uma ameba diante do Palio que a ultrapassava a 90km/h.
16h43min, o tempo não dava trégua. Mas ela não se deixaria vencer tão facilmente. Trocou seus pés por tijolos. Eles pressionavam o acelerador, que parecia leve como uma folha ao vento. O acelerador era submisso. Obedecia sem questionar. Aos 110km/h, já não havia quem ousasse ficar na sua frente. A motorista, confiante de seu poder, intimidava os demais automóveis. Nem a EcoSport conseguiu vencê-la e teve que dar passagem. 130km/h e o olhar fixo no relógio e na estrada. Mais carros para passar. Mais ponteiros para perseguir. O carro, alcançando a marca dos 140km/h, já não era mais um carro. Era uma mancha azul cintilante que deixava zonzos aqueles que tentavam contemplá-la. As rodas não tocavam o asfalto. Flutuavam. O velocímetro pedia clemência. O motor queria uma folga, queria respirar. Mas a moça só queria chegar.
Às 16h50min as coisas melhoraram um pouco. O trânsito, temendo a mancha azul, desafogava-se ao bel prazer da motorista. Ela mandava. Era a soberana das rodovias. A domadora de todos os carros presentes. Contudo, não ousou aumentar para 150km/h. Conhecia seus limites e os do Palio. Manteve-se na velocidade da mancha e, guiando, como Apolo, sua carruagem ao Sol, avistou seu destino no horizonte.
Os tijolos se quebraram. O acelerador pôde subir novamente. A mancha foi, aos poucos, tomando os contornos de um carro. Cinco da tarde, zero quilômetros. O veículo estava inerte. O destino final havia enfim sido alcançado. A mulher, tal como um domador de chicote em punho, podia agora admirar sua façanha. Podia respirar. Na volta, ela ainda encontrou todos os veículos que havia ultrapassado.
11 comentários:
Volta?
Ai, samir, que texto complexo!
Ela morreu? Posso jurar que ela morreu... acho que não entendi. :S
Viu que eu devia ter lido aquela hora? Aí tu podia me explicar... hehe
E tu viu ela passar dentro de um Unesul pinga?? hehehe
Mto complexo... mto complexo...
Ela tá no céu agora?
Eu também acho que ela morreu.
Me explica.
Beijos
Bom texto! Chega a dar uma agonia quanto mais perto ela chegava do destino.
Gostei e acho que ela não morreu não, tanto que na volta ela encontra os veículos que havia ultrapassado.
Ela NÃO MORREU! Ela chegou no seu destino e depois voltou, simplesmente isso. Por que vocês acharam que ela morreu?
Politicamente incorreta a pobre mo�a!!!! Completamente sem no�o dos espa�os coletivos. Correu riscos e colocou outros em perigo!
Ai samir, como tu é sem graça!!!
Agora não gostei do texto...
Tinha gostado pela questão metafórica do "Cinco da tarde, zero quilômetros. O veículo estava inerte".
Samir estraga prazeres!
Teu texto parece Bienal.
O artista não quer dizer nada e os 'cults' vão lá e interpretam do jeito que lhes convêm.
Eu 'só faço uma cara que entendi e saio bem feliz'... hehehe
Ah!! pode parar...Ela morreu sim....Uma pessoa que transgride tanto na estrada , num feriadão... Onde está o bom exemplo??? Só em novela da globo é que o bandido leva a melhor!!!!!
De qualquer maneira conseguiste criar uma polemica que nem estava programada! Bj ML
q feio exemplo samir!
hehe
brincadeira!
gostei do ritmo do texto!
bjooo!
isso aí! morte ao samir!!!!
e ele nem disse que a motorista imprudente era uma conhecida.. tsc tsc...
:)
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