segunda-feira, 10 de setembro de 2007

A domadora de carros


Foto: site 2com

Era um Fiat Palio azul metálico, modelo 2000. A rodovia, em época de feriadão, estava lotada. Claro que, como mandam as leis de Murphy, o fluxo era bem maior no sentido em que o veículo estava. O sentido de quem volta da praia. Mas ela não voltava do litoral, de uma cidadezinha qualquer com cheiro de brisa e de mar. Ela só ia.

Compromissos mil passavam pela sua cabeça. Tinha um horário a cumprir. Já estava matematicamente atrasada. A menos que conseguisse mudar a relação tempo-espaço, não chegaria a seu destino até as 17h. E já eram 16h35min, precisava correr. Precisava urgentemente ultrapassar aquela fileira de tartarugas que se movimentavam com o pesar de quem deixa o paraíso costeiro para se dirigir ao caos dos dias úteis. Mas, determinada, a moça ao volante pisou fundo. 80km/h e menos três carros pra passar. Mais adiante, uma Brasília antiga e caindo aos pedaços, com colchões, bicicletas e malas em cima, reduziu-se à insignificância de uma ameba diante do Palio que a ultrapassava a 90km/h.

16h43min, o tempo não dava trégua. Mas ela não se deixaria vencer tão facilmente. Trocou seus pés por tijolos. Eles pressionavam o acelerador, que parecia leve como uma folha ao vento. O acelerador era submisso. Obedecia sem questionar. Aos 110km/h, já não havia quem ousasse ficar na sua frente. A motorista, confiante de seu poder, intimidava os demais automóveis. Nem a EcoSport conseguiu vencê-la e teve que dar passagem. 130km/h e o olhar fixo no relógio e na estrada. Mais carros para passar. Mais ponteiros para perseguir. O carro, alcançando a marca dos 140km/h, já não era mais um carro. Era uma mancha azul cintilante que deixava zonzos aqueles que tentavam contemplá-la. As rodas não tocavam o asfalto. Flutuavam. O velocímetro pedia clemência. O motor queria uma folga, queria respirar. Mas a moça só queria chegar.

Às 16h50min as coisas melhoraram um pouco. O trânsito, temendo a mancha azul, desafogava-se ao bel prazer da motorista. Ela mandava. Era a soberana das rodovias. A domadora de todos os carros presentes. Contudo, não ousou aumentar para 150km/h. Conhecia seus limites e os do Palio. Manteve-se na velocidade da mancha e, guiando, como Apolo, sua carruagem ao Sol, avistou seu destino no horizonte.

Os tijolos se quebraram. O acelerador pôde subir novamente. A mancha foi, aos poucos, tomando os contornos de um carro. Cinco da tarde, zero quilômetros. O veículo estava inerte. O destino final havia enfim sido alcançado. A mulher, tal como um domador de chicote em punho, podia agora admirar sua façanha. Podia respirar. Na volta, ela ainda encontrou todos os veículos que havia ultrapassado.

11 comentários:

Luana Duarte Fuentefria disse...

Volta?

Ai, samir, que texto complexo!

Ela morreu? Posso jurar que ela morreu... acho que não entendi. :S

Viu que eu devia ter lido aquela hora? Aí tu podia me explicar... hehe

Unknown disse...

E tu viu ela passar dentro de um Unesul pinga?? hehehe


Mto complexo... mto complexo...

Carolina Tavaniello P. de Morais disse...

Ela tá no céu agora?
Eu também acho que ela morreu.
Me explica.

Beijos

Patrícia disse...

Bom texto! Chega a dar uma agonia quanto mais perto ela chegava do destino.

Gostei e acho que ela não morreu não, tanto que na volta ela encontra os veículos que havia ultrapassado.

Samir Oliveira disse...

Ela NÃO MORREU! Ela chegou no seu destino e depois voltou, simplesmente isso. Por que vocês acharam que ela morreu?

Anônimo disse...

Politicamente incorreta a pobre mo�a!!!! Completamente sem no�o dos espa�os coletivos. Correu riscos e colocou outros em perigo!

Luana Duarte Fuentefria disse...

Ai samir, como tu é sem graça!!!
Agora não gostei do texto...

Tinha gostado pela questão metafórica do "Cinco da tarde, zero quilômetros. O veículo estava inerte".

Samir estraga prazeres!

Luana Duarte Fuentefria disse...

Teu texto parece Bienal.
O artista não quer dizer nada e os 'cults' vão lá e interpretam do jeito que lhes convêm.

Eu 'só faço uma cara que entendi e saio bem feliz'... hehehe

Unknown disse...

Ah!! pode parar...Ela morreu sim....Uma pessoa que transgride tanto na estrada , num feriadão... Onde está o bom exemplo??? Só em novela da globo é que o bandido leva a melhor!!!!!
De qualquer maneira conseguiste criar uma polemica que nem estava programada! Bj ML

Ananda Etges disse...

q feio exemplo samir!
hehe
brincadeira!
gostei do ritmo do texto!
bjooo!

Liza Mello disse...

isso aí! morte ao samir!!!!

e ele nem disse que a motorista imprudente era uma conhecida.. tsc tsc...

:)