quinta-feira, 18 de junho de 2009

A cultura da inércia

Jornalistas e estudantes de jornalismo de todo o país sentiram o peso do desinteresse no dia 17/06, data em que o Supremo Tribunal Federal ceifou da legislação a obrigatoriedade de diploma para o exercício da profissão.

Nós, jornalistas e estudantes, enquanto categoria, somos extremamente desmobilizados. Nos apegamos aos fatos, aos acontecimentos do bairro e do planeta. Opinamos sobre qualquer assunto que dominamos minimamente. Imergimos com intensidade nas histórias que escrevemos. O mesmo não ocorre com as próprias causas.

A consequência natural é o sucateamento das nossas representações. Sem associados, os sindicatos não têm como manter uma estrutura satisfatória, um aparelhamento capaz de cobrir as necessidades mínimas da categoria. Sem condições financeiras, não podem, por exemplo, sequer lotar caravanas para realizar protestos em Brasília – como teria sido extremamente oportuno, no caso da votação do STF.

Comparo a inércia dos jornalistas e dos acadêmicos da área com a organização da classe médica, por exemplo, que é ferrenhamente mobilizada. Há pouco tempo o governo esboçou uma tentativa de mudar a nomenclatura da titulação médica. Um fato aparentemente simples e que, não fosse a articulação da categoria, teria passado em branco. Bastou isso para que mais de dois mil estudantes de medicina lotassem as ruas de Porto Alegre no ano passado para exigir que, em seus diplomas, constasse o título de “Médico” e não de “Bacharel em Medicina”, como pretendia o Ministério da Educação. A revolta dos jalecos, associada a uma série de medidas, inclusive legais, fez com que o MEC recuasse e garantiu que, até hoje, os universitários tenham o título de médico estampado em seus canudos.

A maior seqüela da nossa desmobilização é a facilidade com que nos arrancam direitos e garantias. Outras categorias talvez tivessem feito uma grande articulação e mobilização nas suas bases e, com isso, conseguido reverter a imposição da não-obrigatoriedade de um diploma superior. Será que os jornalistas e estudantes não possuem essa consciência coletiva? Nossa causa é menor? Somos mais alienados? São perguntas perturbadoras e que a realidade se encarregará de responder.