terça-feira, 24 de julho de 2007

Devaneios de um quase-jornalista

Não há nada melhor do que ser jornalista. Isso eu afirmo com toda certeza, apesar de ainda não ser um. Estou na penumbra dos quase-jornalistas. E espero que esse espaço de tempo quase realmente dure bastante. Não tenho pressa em me por à luz. Pra que, se eu posso, desde já, usufruir as benesses de ser jornalista? Mesmo nos mais simples estágios (não que eu tenha feito mais que um) encontro o valor do jornalismo. As pessoas te olham diferente se você é repórter. Claro, isso pode ser bom ou não! E até o não-ser-bom pode, de fato, ser bom. Mostra que a presença do repórter incomoda. E, se incomoda, quer dizer que ele está no lugar certo.

O jornalista na verdade é um tremendo chato. Pergunta, pergunta e pergunta quantas vezes for necessário. E nem sempre as pessoas querem responder. Nem sempre as pessoas querem aparecer (é bom mesmo que não queiram, afinal de contas não sou publicitário). Mas, quando eu estou com um bloco na mão e uma caneta em outra, sinto-me mais poderoso que o elenco inteiro da marvel! É quase um transe. A caneta mira, escolhe bem o alvo. O papel é a munição. As mãos guiam essa ira de escrever. De anotar, de registrar tudo. A tinta é o limite! O que foi mesmo que ele disse? Do que se trata? Como o senhor explica tal fato? Seu nome completo, por favor? Pode soletrar? Quanta informação boa! Quanta porcaria, isso nem vai entrar na matéria...

É disso que eu estou falando. Dessa emoção de coletar, soletrar, verificar e checar as informações. Cruzar as fontes. Depois de todo o trabalho sujo, vem o melhor: escrever. Mais uma dose de infinitivos atravessa apressada a mente do jornalista: ler, reler, conferir, mudar, refazer. Mas todos eles buscam um verbo em comum – publicar. Sem ele, nada teria sentido. Desde um blog até um renomado periódico, jornalistas são obsessivos por publicar. O texto final é uma obra-prima. Sempre a pior, é claro. Mas ainda assim ele continua escrevendo. Ainda assim eu continuo escrevendo. Minha obra-prima particular nunca ficará pronta, apenas renovada.

quinta-feira, 12 de julho de 2007

Convocação


Foto: blog do Renato Testa

Em um de meus passeios rotineiros pela comunidade orkuteana de Teorias da conspiração, deparo-me com um tópico bizarro: vergonha de ser brasileiro. Seu criador afirma ter orgulho de sentir vergonha de ser brasileiro e alega ter feito o tópico para ver se alguém conseguiria demovê-lo de sua contundente posição. Minha vontade de esculachá-lo logo foi embora quando vi que muitos já tinham mandado o infeliz pra bem longe (literalmente). Bem merecido. Afinal de contas, além de ser uma colocação ridícula e contraditória, não estava no lugar certo! Cadê a conspiração no que ele dizia? Francamente, devia ter procurado uma dessas comunidades do tipo Odeio o Brasil ou algo assim.

Aliás, não entendo como alguém pode odiar o próprio país. Não gostar, não concordar, não amar é uma coisa; mas ódio é um sentimento forte demais para se referir a algo tão complexo e heterogêneo como um país inteiro! Odiar a própria pátria é, de certa forma, odiar a si mesmo. É não suportar viver em um país deficiente sabendo que não está ajudando. É deslumbrar-se com o exterior e esquecer a sua gente. É não ter amor próprio.

O Brasil pode não ser lá essas coisas. Há corrupção, descaso por educação, pobreza, uma concentração enorme de renda... Tudo isso nós temos. Mas não é por isso que devemos hastear a bandeira branca e ir embora! O tempo dos discursos retóricos já passou e as utopias estão sepultadas. O concreto e o real são o que importa. E a realidade é dura, com certeza, mas pode ser mudada. Se cada um pensasse que nem o “cidadão” do supracitado tópico, o Brasil seria uma nação de desertores. Já não bastam os desertores de Brasília, que se fartam com a miséria do povo.

O patriotismo não deve virar xenofobia, mas não pode cair no esquecimento. Eu sou patriota, e você?

segunda-feira, 2 de julho de 2007

"Não tinha um melhor, não?"


Na última quinta-feira, 28, realizei um pequeno desejo: ver Batismo de Sangue no cinema. Peguei a primeira sessão, logo após as 13h. Como sempre, filmes brasileiros ficam relegados à pequena sala oito de um certo multiplex porto-alegrense. Claro, as outras salas já estão majestosamente ocupadas por produções gringas. Não que eu pregue a abolição hollywoodiana do Brasil. Apenas acho que o cinema nacional merece maior destaque (por parte do público, principalmente).

Enfim, voltando ao assunto: Batismo de Sangue é um filme tenso. Bem, um filme que trata da ditadura militar brasileira e não é tenso, não é digno de abordar tal assunto. E O ano em que os meus pais saíram de férias? A beleza estética e a inocência dessa obra dispensam quaisquer menções aos governos militares.

A sessão das 13h10min estava vazia, contando apenas com umas quatro pessoas. Um casal, eu e uma senhora sentada bem ao fundo. Enfim, começa o filme. A primeira cena me dá náuseas, mas sigo em frente. Quero entender o que houve, que cadeia de acontecimentos desembocou naquela cena cinza e sem esperanças. Tá, eu poderia ter lido o livro de Frei Beto, obra homônima na qual Helvécio Ratton se baseou para fazer o filme. Mas aí não teria graça.

Eu queria ser surpreendido do começo ao fim. E foi exatamente isso que aconteceu. Caio Blat e Daniel de Oliveira estavam ótimos. Principalmente o primeiro, no papel de Frei Tito. O ex-cazuza, agora encarnado na pele de Frei Beto, também se saiu bem, mas deixou a desejar. Acho que o talento do colega e o peso de seu personagem fizeram com que eu esperasse mais de sua atuação.

Ai, não acredito! Realmente mostraram aquilo? Cenas de tortura escancaradas na tela! Fechei os olhos, mas os gritos ainda ecoavam no ambiente, como se implorassem para serem ouvidos. É hipocrisia minha tampar a visão. Estou vendo um filme sobre a ditadura e quero negar toda a crueldade daquele período? Era uma questão de honra engolir aquelas imagens. Têm um gosto amargo, mas descem.

Ao terminar o filme, saí contente, apesar de tudo. Desconhecia a participação de frades dominicanos na luta contra a ditadura e me interessei mais sobre o tema. As imagens pesadas foram uma espécie de lição. E demonstram, também, um certo amadurecimento tardio da população brasileira. Parece que só agora, 21 anos depois, é que estamos preparados para ver os horrores que à época passavam camuflados nas vestes militares.

Mas, ainda na saída, um comentário alfinetou minha indignação. “Não tinha um filmezinho melhor, não ein?”, perguntou a moça da frente ao seu companheiro. Realmente, entre Shrek e Piratas do Caribe, não havia muitas opções. Recomendei Caparaó.

Imagem: divulgação do site oficial