domingo, 25 de outubro de 2009

O fazedor de chaveiros

Não tenho mais saco para ficar passeando em um shopping center. A atividade, que representava o suprassumo da diversão quando eu era criança e saía da pequena cidade de 40 mil habitantes para ir à Capital, agora se revela o mais modorrento dos passatempos.

Mas o resto da minha família adora. Passear por passear. Olhar as vitrines. Nada pode ser mais torturante, mais seviciador, mais masoquista do que olhar as vitrines. Mas bem, esse início é apenas para ambientar que, em uma tarde preguiçosa num estimado shopping center, enquanto esperava duas mulheres desbravarem as maravilhas da Renner, eu conheci ele, o senhor que fazia chaveiros. Fazia, não. Faz.

Me deliciando com o final de um livro delirante e psicologicamente enlouquecedor, eis que se aprochega ele ao meu lado, em um dos limpos bancos de madeira do local. Abre uma maleta preta, quadrada, e dela retira molhos e molhos de chaveiros, todos feitos de arame e com o mesmo formato oval. Depois, puxa um pedaço de papel, olha para os lados e enfim me pergunta. "Tem uma caneta?". "Claro", respondi, alcançando a suas mãos envelhecidas o objeto desejado. Volto ao alucinante livro, ao final da trama, ao orgasmo mental de conhecer o encaminhamento das personagens e àquela sensação de putaquepariu, que merda que acabou.

"Tu estuda?", pergunta, sem parecer incomodado em me incomodar. Ao que respondo com uma afirmativa seca, indicando que nada me interessa mais do que descobrir se enfim Ródion Románovitch iria se entregar, se Pulkéria Alieksándrovna iria descobrir o horrível segredo do filho e se Svidrigáilov continuaria bolinando uma miserável camponesa de 16 anos - tudo isso na Rússia czarista do século XIX.

"E qual é o teu nome?". "Samir". "Hein? Samil?". "Não senhor, Samir, com R de rato no final.". Imediatamente após descobrir meu nome, puxou da maleta um fio de arame e dois alicates. De uma maneira inexplicável para um senhor de 101 anos (idade que me assegurara ter), comecou a tecer no arame as letras S A M... E assim prosseguiu, com uma precisão cirúrgica. Só nesse momento é que fechei o livro e voltei para a Porto Alegre do século XXI. E notei o quão elegante era ele. Calça social preta e blazer bege, com gravata azul escura e camisa azul clara. Ok, combinar cores talvez não seja a sua especialidade, mas o fato de ter 101 anos, cabelos lisos brancos brotando aos tufos e coordenação motora de um pivete que foge da mãe ao fazer coisa errada, me fez não querer ver outra coisa.

Os que passavam eram capturados para a dantesca cena. Os vendedores das lojas ao redor cochichavam e apontavam. Uma mulher parou no banco ao lado para assistir. Em menos de dez minutos estava pronto. De um fio de arame feio e abstrato, seu Francisco Casela extraiu sentido e fez arte. Os dedos entortados pelo ofício e a mão de veias roxas pulsantes se mostraram mais capazes do que meu ignorante preconceito poderia crer. Imediatamente, me estendeu o chaveiro, complementando: "Toma, fiz pra ti. Tu merece, estava aí estudando e foi gentil comigo". Embasbacado, não consegui esboçar uma reação direta. Quando fez menção de sair, me levantei e lhe agradeci tao efusivamente quanto a peculiaridade da situação permitia. E foi assim que conheci o artesão de 101 anos que, munido de alicates, transforma arame em felicidade.

quinta-feira, 18 de junho de 2009

A cultura da inércia

Jornalistas e estudantes de jornalismo de todo o país sentiram o peso do desinteresse no dia 17/06, data em que o Supremo Tribunal Federal ceifou da legislação a obrigatoriedade de diploma para o exercício da profissão.

Nós, jornalistas e estudantes, enquanto categoria, somos extremamente desmobilizados. Nos apegamos aos fatos, aos acontecimentos do bairro e do planeta. Opinamos sobre qualquer assunto que dominamos minimamente. Imergimos com intensidade nas histórias que escrevemos. O mesmo não ocorre com as próprias causas.

A consequência natural é o sucateamento das nossas representações. Sem associados, os sindicatos não têm como manter uma estrutura satisfatória, um aparelhamento capaz de cobrir as necessidades mínimas da categoria. Sem condições financeiras, não podem, por exemplo, sequer lotar caravanas para realizar protestos em Brasília – como teria sido extremamente oportuno, no caso da votação do STF.

Comparo a inércia dos jornalistas e dos acadêmicos da área com a organização da classe médica, por exemplo, que é ferrenhamente mobilizada. Há pouco tempo o governo esboçou uma tentativa de mudar a nomenclatura da titulação médica. Um fato aparentemente simples e que, não fosse a articulação da categoria, teria passado em branco. Bastou isso para que mais de dois mil estudantes de medicina lotassem as ruas de Porto Alegre no ano passado para exigir que, em seus diplomas, constasse o título de “Médico” e não de “Bacharel em Medicina”, como pretendia o Ministério da Educação. A revolta dos jalecos, associada a uma série de medidas, inclusive legais, fez com que o MEC recuasse e garantiu que, até hoje, os universitários tenham o título de médico estampado em seus canudos.

A maior seqüela da nossa desmobilização é a facilidade com que nos arrancam direitos e garantias. Outras categorias talvez tivessem feito uma grande articulação e mobilização nas suas bases e, com isso, conseguido reverter a imposição da não-obrigatoriedade de um diploma superior. Será que os jornalistas e estudantes não possuem essa consciência coletiva? Nossa causa é menor? Somos mais alienados? São perguntas perturbadoras e que a realidade se encarregará de responder.

domingo, 9 de novembro de 2008

A segunda vez dói menos

Alguns momentos da vida já estão preparados. Há um certo entrelaçamento de idéias, fatos, sentidos que dão forma ao exato instante do agora. Do agora enquanto escrevo este texto, do agora enquanto você lê. E não estou propagando misticismo descabido. Depois de ser assaltado pela segunda vez, o elo misterioso de que falei descortina-se com mais leveza.

A gente tinha que estar ali. Não havia conjuntura possível que nos fizesse não estar ali, aguardando pelos assaltantes, como se recebêssemos ordens expressas para tanto. Se tivéssemos ficado mais dois minutos na festa, se tivéssemos feito outro trajeto, se tivéssemos aguçado os ouvidos. Se. Se. Se.

Mas é exatamente disso que estou falando. Dessa maquinação subliminar para que as coisas aconteçam. Desse mandamento cruel que faz com que percamos o controle aparente sobre nosso livre-arbítrio. Indo mais adiante na teoria e avançando na sabedoria popular: era para ter acontecido. Não há outra explicação para a surpreendente abordagem dos dois elementos, da qual nem o relógio que me orienta no espaço há 9 anos escapou ileso. Na qual meus bolsos foram violados por mãos sediciosas e a impotência tomou conta da vontade. De sair correndo. De dar uma de Jeniffer Lopez para Nunca Mais passar por isso. DE ter superpoderes. De viver em um mundo melhor. (perdão pelo clichê, mas o estado.emocional bloqueia algumas regras textuais).

O certo é que, indo por outro dito, a segunda vez dói bem menos. Tirando o nervosismo de estar lidando com um ser humano fora de controle, que entoa um coro repleto de ameaças e, talvez, não hesitasse em concretizá-las, a situação estava sob controle. Era um contrato simples e já conhecido por milhões de brasileiros: fica quieto, entrega e sai. O curioso foi a movimentação de gangues (?) ao redor e a ameaça de um tiroteio (??). Foi tudo muito rápido, mas logo os meus assaltantes (que meigo, já até uso pronomes possessivos) começaram a berrar contra três caras que vinham do outro lado. Esses, por sua vez, ameaçaram “furar” eles e eu e meu amigo no meio disso tudo. Um momento muito Acerola-e-Laranjinha-na-Cidade-de-Deus. Tudo isso sob o sol incipiente das SETE DA MANHÃ. Arrisco dizer, ainda, que uma platéia complacente de pessoas que estavam na para de ônibus assistia a tudo com apatia.

Não chorei depois. Não me desesperei e não procurei culpados desta vez. E esse texto fica assim mesmo, sem final, porque tenho que ir agora comprar um celular.

quarta-feira, 5 de novembro de 2008

Tietagem e alfinetadas na palestra. Ou de quando descobri que posso ser um criminoso.

O que mais me marcou na palestra do Caco Barcellos foi que o brasileiro, contrariando minhas teorias, não perdeu a capacidade de protestar. De ser tenaz, arguto, provocador e alfinetante. Tudo bem que o público era composto de estudantes universitários, dos quais grande parte faz jornalismo. Mas, ainda assim, a pergunta afastou a apatia e deu um ar de rebuliço ao ambiente.

- Gostaria de saber se todos os números revelados sobre as mortes por violência no Brasil são superiores às mortes causadas pelo cigarro todos os anos.


Óquei, não foi exatamente assim, não gravei a frase, apenas a idéia. A pergunta seria idiota e sem nexo, a não ser pelo fato de estar ecoando num evento organizado pela, cof-cof, Souza Cruz.


Caco Barcellos, o maior souvenir do jornalismo contemporâneo, ficou vermelho, titubeou e alegou desconhecer os dados referentes aos prejuízos do tabaco. Apesar de não descartar a realização de uma reportagem sobre o assunto (!), o jornalista disse que aquele não era o foco da palestra. Sua cara de “putz-parem-com-isso-a-souza-cruz-tá-me-pagando-para-estar-aqui” dispensava quaisquer justificativas.

Rapidamente, a representante da empresa pegou o microfone e desempenhou (muito bem, diga-se de passagem) o papel de advogada do Diabo. Como boa relações-públicas,
a moça foi polida, calma e convicta, mas, na verdade, tudo o que ela disse poderia ser resumido numa frase “Fuma quem quer. Burros são vocês que se matam e ainda fazem a gente lucrar com isso”.

Tirando o divertido contratempo, a conversa foi bem descontraída e construtiva. Mais formativa do que informativa. A tese do souvenir é, no mínimo, instigante: o Estado é a maior máquina de matar da sociedade. A polícia, através, principalmente, de unidades especiais como BOPE e ROTA, aniquila mais pessoas do que os traficantes e os assaltantes. E o mais perturbador de tudo isso: nós somos coniventes e co-autores dessa teia perversa. Durante a palestra, fomos o tempo inteiro, enquanto público de classe média universitário, culpados. Caco não se eximiu, não foi hipócrita. Também reconheceu seu papel nessa história, e, sobretudo, acusou. Construiu frases como “vocês, que não são criminosos habituais (...)”. Porra, o cara me chama de criminoso e eu fico sentado só ouvindo? Sim. Porque talvez seja verdade mesmo. Repeti a noite inteira o mantra: “O que me isenta disso tudo?”, “O que me isenta disso tudo?”, “O que me isenta disso tudo?”. E, afinal, o que, de fato, faz com que eu tire o meu da reta? E o seu?


*Ao final, todos ganharam uma mochila reciclada. Realmente bacana. E o melhor, de graça. Eu peguei a minha, claro. Agora ando pra lá e pra cá com MINHA hipocrisia estampada nas costas.

**Caco Barcellos, como bom bonequinho de vitrine, colocou-se à disposição para fotos no final do papo. Ah, essas tietes! :D

segunda-feira, 20 de outubro de 2008

O bailão visto por dentro

Exaltação. Suor. Animação. Essas três palavras compõem o mini-universo em que pode ser enquadrada certa derivação de casa noturna. Não uma boate tradicional, com dançarinas sedutoras rebolando em pequenas gaiolas suspensas. Tampouco um salão empolado, onde damas da alta sociedade desfilam vestidos longos e narizes empinados. Os três vocábulos acima se traduzem em apenas uma palavra: bailão.

A fachada é simples e informal, porém, informativa. A pintura gasta alerta, em tons de vermelho e azul, que o imenso casarão branco localizado na Avenida João Pessoa abriga a Cervejaria Rodeio e terá, na quinta-feira, 9/10, show com a banda Musical JM. “O pessoal da JM cobra R$ 15 mil por duas horas de apresentação”, dimensiona Moisés de Assis, proprietário do clube. Com ares de obviedade típicos de quem já domina o assunto, esclarece: “Bandas grandes só tocam por duas horas”.

Com 53 anos, jornalista formado e apresentador de um programa matutino na Rádio Farroupilha, Assis acumula o trabalho de radialista com a gerência de uma “casa popular”, como ele mesmo prefere definir seu empreendimento. “Bailão é um termo muito pejorativo”, justifica. Sentado em uma saleta discreta dentro do grande galpão que é a Cervejaria Rodeio, Moisés ostenta algumas prerrogativas de dono. Um sofazinho amarelo de dois lugares, uma televisão de 12 polegadas e uma mesa de escritório com porta-canetas e papéis espalhados são os pequenos luxos que o grande salão cimentado esconde. O pequeno Bunker de Moisés. Onde a vasta gama musical que ecoa através das dez caixas de som do ambiente não chega com tanta intensidade.

A casa existe há 28 anos e está há oito sob as rédeas do radialista. Já se chamou Ático, Status Clube, Capitão Sete e Clube Rodeio. A mudança para o nome atual é “uma tática de venda para atingir um público mais jovem”, esclarece Assis. Por público, entenda-se pessoas de todas as idades. Moisés prefere não restringir e estima uma margem de freqüentadores entre 16 e 60 anos. A mesma distância não prevalece quando dimensiona a esfera social de quem procura diversão no chão batido da cervejaria. ““Quem vem aqui é a classe trabalhadora, é o motorista de ônibus, a diarista, a aposentada, a garçonete, o eletricista”, conclui.

“O gosto popular é muito acentuado”

“Se apertar ela dá... dá, dá, dá. Se insistir ela dá... dá, dá, dá. Com jeitinho ela dá... dá, dá, dá.” A letra libidinosa e o ritmo dançante embalam os quadris de Rose pelo salão retangular rodeado por 14 camarotes e pequenas mesas redondas. O desconhecido que a acompanha é apenas um acessório para seu divertimento. “Venho aqui só para dançar”, confessa a pensionista, admitindo que “quando os homens tentam alguma coisa, eu dou o fora”. Mãe de duas adolescentes, a moradora do bairro Cristal reúne os amigos e se desloca religiosamente para o santuário da folia barata. “Aqui é que nem Igreja, tem que vir todo domingo”, confirma Rose, enquanto olha para a pista a procura do próximo objeto dançante.

“Você nunca me amou, só me quer naquela hora”, esbravejam as dez caixas de som negras camufladas na penumbra do ambiente. Em seguida, outra voz entoa: “Ela não me ama. Ela só quer coisar”. O ritmo e as letras parecem não incomodar Adam Santos. Aos 19 anos, o jovem eletricista não se abala com a sonoplastia: “Meus pais escutam esse tipo de música, então já estou acostumado”. Porém, é visível a percepção de que o morador de Estrela não faz parte do folclore local. Calçando tênis All Star preto e vestindo calça jeans e camiseta justas ao corpo, o rapaz desconversa. “Gosto mesmo é de rock!”. A franja corta o rosto na diagonal e denuncia suas preferências musicais destoantes. “Escuto geralmente Fresno, NX Zero e Simple Plan”, revela. A opção pela Cervejaria Rodeio para passar a noite de domingo não se fundamenta nas melodias: “Estou em Porto Alegre a trabalho e um amigo me convidou para vir pra cá”, ressalva, concluindo que espera “conhecer gente nova”.

Indiferente ou apaixonado, o público sente na música o perfil da casa. Detentor da programação e senhor absoluto das caixas de som, Moisés de Assis reconhece a importância da sonoridade para a movimentação do estabelecimento. “Eu sou um arquivo musical, quem dita as músicas aqui sou eu”, impõe o corpulento gerente. Mas acrescenta: “A música é péssima, é só dor de cotovelo”. Apesar de gerenciar uma casa popular, Moisés não compartilha as mesmas predileções dos seus clientes. “Gosto de Queen, Beatles, Lulu Santos”, contrapõe. Para ele, “o pessoal que consome o tipo de música do bailão é mais alienado”. O proprietário, que fatura em média R$ 150 mil por mês com a Cervejaria Rodeio, resume o apetite sonoro do público: “O gosto popular é muito acentuado”.

“A inspiração vem de nós mesmos”

O imponente palco da Cervejaria Rodeio é destinado às mais diversas bandas do segmento popular. Encravado no fundo do salão, de frente para a vasta pista de dança e de costas para as três cabines do banheiro masculino, o local transforma-se no foco da atenção do público quando o grupo Musical JM desponta atrás das cortinas de TNT cinza. Os sete integrantes do conjunto hipnotizam a platéia, que delira com a voz do vocalista Clayton Borges, de 38 anos.

Com mais de 16 CDs gravados, a banda realiza apresentações em vários estados do país e até internacionalmente. “Acabamos de voltar do Paraguai”, acentua o baterista Denis Casper. As fãs se espremem na frente do palco e esticam os braços na tentativa de acariciar seus ídolos. Juliana Ferraz obtém sucesso. A jovem de 19 anos ignora a cantoria e agarra Clayton pelo pescoço, levando-o para a lateral do palco. Não satisfeita, segundos depois investe contra o outro vocalista, para então descer e se juntar à massa embevecida pelas melodias do grupo. O gaiteiro Adilson Souza explica o segredo da composição das músicas de sucesso: “A inspiração vem de nós mesmos”.

Mas para tocar no palco da Cervejaria Rodeio é preciso, antes, passar pelo crivo de Josi Nascimento. A empresária das bandas trabalha há três anos no clube e se orgulha da carreira que construiu. “Hoje eu tenho mais de 60 grupos na minha agenda”, gaba-se Josi. E a experiência já lhe ensinou os macetes da profissão. “San Marino é a banda que mais lota, tanto é que eu consigo apenas dois ou três shows deles por ano”, explica. O cartaz na parede anuncia a próxima atração: “Banda Matizes - os bad boys do tchê music.

“É barato sem ser depreciativo”

Quem paga os cinco reais cobrados para entrar na Cervejaria Rodeio não desconfia que as cifras necessárias para a manutenção do estabelecimento possam chegar a R$ 50 mil por mês. “Só a conta de luz é em torno de R$ 3 mil”, salienta o proprietário Moisés de Assis. Com água, o gasto cai para R$ 2 mil. Mas a maior despesa vem do aluguel do salão, que ceifa dezoito mil reais do lucro mensal de R$ 150 mil que a população proporciona a Moisés.

A casa emprega 28 trabalhadores fixos, com salário em torno de R$ 960,00. Moisés ressalta que, informalmente, o local gera emprego para garagens, para atendentes do posto de gasolina vizinho ao prédio e para seguranças na rua. “É só fechar a casa e a região está morta”, explica o empresário. A família também participa dos negócios. “Tenho três irmãs que trabalham comigo”, afirma.

Com capacidade para 1.500 pessoas, a média de consumo de bebida do clube é de 180 caixas de cerveja por noite, relativo a uma garrafa por pessoa. A quantidade cai no inverno, quando o movimento despenca. Moisés explica porque a estação quente atiça os freqüentadores: “O público da Cervejaria Rodeio não viaja no verão. São como cobras, é só esquentar e saem para a rua”. Para tornar suportável o calor, o salão conta com 17 ventiladores de teto estrategicamente posicionados nos arredores da pista de dança. Como um criador que valoriza sua obra, Moisés sintetiza o resultado da equação gastos elevados x custos baixos: “O bailão é barato sem ser depreciativo”.

terça-feira, 14 de outubro de 2008

Mas bah, tchê

Dois fatos movimentaram meus neurônios nesta manhã – coisa rara, após uma noite de pouco sono e muito café.

Primeiro: a ex-companheira do ex-governador Leonel Brizola abocanha o Estado e envergonha a História com o pedido – já acatado pela (in)justiça brasileira – de condição de anistiado para o dito cujo. Calma, brizolistas de plantão! O ícone pedetista foi, inegavelmente, exilado pelo regime militar de 1964 e teve os direitos políticos cassados. Até aí, óquei. O que a viúva sacana não deveria ter feito é intercedido pelo falecido em uma questão que nem o próprio, quando vivo, concordava. Brizola, em atitude de nobreza ou marketing político, se recusava a usufruir das benesses ($$$) da Lei da Anistia. Ao que parece, Marília Guilhermina Martins Pinheiro discorda. Não bastasse a já pomposa pensão de R$ 13,7 mil que ganha do governo do Rio Grande do Sul e os R$ 6,3 mil que o governo do Rio de Janeiro lhe paga mensalmente, Marília, graças às perseguições políticas sofridas por Brizola, vai ter revisada – vulgo “aumentada” - a pensão (sim, mais uma) de R$ 2 mil que a Câmara de Deputados gentilmente lhe concede. Detalhe: as duas primeiras mesadas são apenas por ser mulher de ex-governador. Que governou dois estados, ainda! Sortuda ela, não? Inclusive estou pensando em galantear a governadora Yeda Cruzes para, findado o mandato, ganhar uma bagatela mensal às custas do dinheiro público.

Segundo fato tensionador de neurônios

Apartentemente, o Movimento Tradicionalista Gaúcho (MTG) não tem mais o que fazer. Cansados do marasmo de apresentações em rodeios, invernadas, passinho-pra-lá-e-passinho-pra-cá, a gauderiada tradicionalista resolveu entrar em guerra com os gays. Não com todos os gays – pelo menos não abertamente -, mas com aqueles que usam bombacha e dançam nos CTGs. Os guardiões da cultura gaúcha se sentem incomodados com a presença de gestos suaves e passos leves nos corpos dos peões, chegando a afirmar, inclusive, que eles competem em feminilidade com as prendas. Quanto moralismo! Quanto preconceito! Quanto alarde para pouca merda! Sugiro, inclusive, que os peões homossexuais se unam e formem o GTG. Gays Tradicionalistas Gaúchos. Mas isso não se concretizaria. Grande parcela desses guascas, embora de gestos e trejeitos afeminados, nunca iria expor suas bombachas coloridas em praça pública. Além do mais, os GTGs só incentivariam o apharteid sexual, embora preservassem a liberdade individual que os tradicionalistas condenam. Na verdade isso tudo é uma grande baboseira do pessoal do MTG. Baboseira não. Frescura.

*Para ler o artigo que critica a presença homossexual nos CTGs, clique aqui

> Algumas pérolas do caudilho ressentido
p.s: favor desconsiderar os erros de português

"O avanço do homossexualismo no mundo atinge todas as camadas sociais e todas as culturas, é um avanço assustador!"

"Homem acasala com mulher e mulher acasala com homem! Da mesma maneira que cavalo cobre égua e não cavalo, e égua não cobre égua. Égua é coberta pelo cavalo! Isto sim, é natural!"

"Vejo em muitas invernadas gestos de peões que, na verdade disputam com a prenda doçura e meiguice, a tal ponto que, a grosso modo, vê-se duas prendas dançando. Uma travestida de homem!"

"Espera-se que instrutores e patrões fiquem atentos para auxiliarem estes peões, para que os gestos não fiquem femininos demais e com isto prejudiquem o desenvolvimento das nossa Danças Tradicionais. Afinal, nas danças gaúchas, feminina só as prendas!"

sábado, 4 de outubro de 2008

Politiqueta

No terreno lamacento da política, tudo é possível. Deputados escolhem o valor dos próprios salários, trabalham três dias por semana e trocam de partido como quem troca de roupa. Nesse caso, a roupa simboliza não a ideologia, mas as intenções do parlamentar. O ministro do Meio Ambiente, Carlos Minc, por exemplo, manifesta sua maneira não-convencional de agir e pensar através dos excêntricos coletes que o tornam alvo até de manchetes na mídia. Mas isso não é parâmetro. Hoje em dia, até a vacinação de César Cielo contra rubéola rende foto colorida em jornal.

Em Porto Alegre não é diferente. Os candidatos tentam passar credibilidade através da roupa que usam. Luciana Genro, do PSOL, resolveu tirar a imagem de revolucionária feia e rabugenta para contabilizar mais votos. Não funcionou. Pelo menos não para ir ao segundo turno. Houve um impacto inicial, mas logo depois os cachos e o tom da candidata voltaram a encrespar.

Maria do Rosário, do PT, fez diferente. Continuou com as mesmas blusas e blazers em tons vermelho e rosa, mas tirou o sorriso do rosto. A petista vivia sorrindo. Falava sorrindo, criticava sorrindo. Soube até de um caso em que ela roubou a vaga de uma pessoa no estacionamento de um teatro e saiu, adivinhem, sorrindo! É uma inclinação quase monalística para a arte de sorrir.. Nos últimos dias, a candidata resolveu dar uma de séria para variar e deixar os sorrisos para o caso de ir ao segundo turno. Talvez seja a preocupação com a adversária Manuela D’Ávila.

Aliás, não tem como falar de estética das eleições sem falar da candidata do PC do B. Manuela, que já foi obesa na adolescência, traiu Lênin e Marx e adotou o roxo como cor oficial da campanha. A candidata encheu o armário de blusas roxas e esvaziou a campanha de qualquer coerência ideológica que o PC do B possa ainda ter. Mas todo mundo que já pegou num lápis de cor de duas pontas sabe: do lado do roxo, vem sempre o rosa. E a pretensa comunista ainda vai ter que dar muitas mãos de tinta roxa para apagar os tons rosados da sua coligação.

Já Vera Guasso, do PSTU, encarna o vermelho e estampa a foice e o martelo no peito. Por convicção, mantém o estereótipo de que mulher, para ser revolucionária, tem que ser malvestida e despreocupada de coisas fúteis como maquiagem.

E os homens? Esses não merecem comentário. A não ser pelo ministro Carlos Minc, todos se vestem igual. O estilo terno-e-gravata predomina no palanque masculino e banaliza qualquer análise sobre moda na disputa eleitoral. Até o Mano Changes teve que entrar nessa. As mulheres é que enfeitam a corrida pela prefeitura de Porto Alegre e transformam penteados e tecidos em poderosas armas para seduzir o eleitor com suas propostas.