Dentre todos os clichês e lugares-comuns que é possível ouvir atualmente, nenhum me irrita mais do que a afirmação de que “hoje em dia os valores não são mais respeitados”. Essa expressão está presente em todos os espaços cotidianos. Das conversas de ônibus aos textos acadêmicos. Ela permeia o imaginário brasileiro de que, em épocas passadas, havia um certo nível moral mais elevado. Nada poderia ser mais estúpido.
Eu gostaria de perguntar aos propagadores desse infeliz aforismo: Quando os tais valores foram respeitados? Aliás, a noção de valor, por si só, é arbitrária e extremamente subjetiva. Mas, enfim, admitindo-se que exista um conjunto de doutrinas morais e éticas que supostamente regem uma sociedade, quando eles foram respeitados em escala infinitamente maior? No Brasil-colônia, quando houve um genocídio das culturas nativas, a total exploração das riquezas nacionais e os governadores-gerais cometiam toda sorte de extravagâncias? No Brasil imperial, com a discriminação aos negros recém “libertados” por uma lei que sequer lhes assegurava um mínimo de dignidade? Nas primeiras décadas do século XX, quando a intensa urbanização sofrida pelas metrópoles brasileiras, especialmente o Rio de Janeiro, enxotou os pobres para os morros e tentou transformar, pelo garrote, a Capital da República numa espécie de Paris tupiniquim? Nos anos 1950, época em que Juscelino desestimulou a indústria nacional, arregaçou o país às multinacionais e os brasileiros deram vivas aos enlatados norte-americanos? Não vou nem comentar o período 1960-1980. Décadas em que “lei” e “ordem” tinham significados muito mais obscuros e cruéis. Passamos, então, aos anos 1990. Me pergunto quais valores podem ser extraídos da privatização de uma nação, de homéricos índices inflacionários e de um governo tão podre que consegue se auto-reeleger.
Portando, queridos interlocutores da perda de valores, dêem uma olhadinha para trás antes de saírem por aí escrevendo, gritando, cuspindo que “hoje em dia, os valores não são mais respeitados”. Não vivemos tempos felizes, com certeza. Mas o que é a noção de felicidade, senão a busca não-palpável por uma perfeição que não podemos alcançar? Quem tem autoridade para dizer que o jovem de hoje é pior que o jovem de 40 anos atrás? Os que apregoam a deterioração dos costumes são, na verdade, mentes extremamente conservadoras sem perspectiva histórica. Fazem crer que vivemos em uma era devassa porque eles mesmos não têm coragem de olhar para o próprio umbigo e verem o quanto são responsáveis pela merda em que pisam.
Eu gostaria de perguntar aos propagadores desse infeliz aforismo: Quando os tais valores foram respeitados? Aliás, a noção de valor, por si só, é arbitrária e extremamente subjetiva. Mas, enfim, admitindo-se que exista um conjunto de doutrinas morais e éticas que supostamente regem uma sociedade, quando eles foram respeitados em escala infinitamente maior? No Brasil-colônia, quando houve um genocídio das culturas nativas, a total exploração das riquezas nacionais e os governadores-gerais cometiam toda sorte de extravagâncias? No Brasil imperial, com a discriminação aos negros recém “libertados” por uma lei que sequer lhes assegurava um mínimo de dignidade? Nas primeiras décadas do século XX, quando a intensa urbanização sofrida pelas metrópoles brasileiras, especialmente o Rio de Janeiro, enxotou os pobres para os morros e tentou transformar, pelo garrote, a Capital da República numa espécie de Paris tupiniquim? Nos anos 1950, época em que Juscelino desestimulou a indústria nacional, arregaçou o país às multinacionais e os brasileiros deram vivas aos enlatados norte-americanos? Não vou nem comentar o período 1960-1980. Décadas em que “lei” e “ordem” tinham significados muito mais obscuros e cruéis. Passamos, então, aos anos 1990. Me pergunto quais valores podem ser extraídos da privatização de uma nação, de homéricos índices inflacionários e de um governo tão podre que consegue se auto-reeleger.
Portando, queridos interlocutores da perda de valores, dêem uma olhadinha para trás antes de saírem por aí escrevendo, gritando, cuspindo que “hoje em dia, os valores não são mais respeitados”. Não vivemos tempos felizes, com certeza. Mas o que é a noção de felicidade, senão a busca não-palpável por uma perfeição que não podemos alcançar? Quem tem autoridade para dizer que o jovem de hoje é pior que o jovem de 40 anos atrás? Os que apregoam a deterioração dos costumes são, na verdade, mentes extremamente conservadoras sem perspectiva histórica. Fazem crer que vivemos em uma era devassa porque eles mesmos não têm coragem de olhar para o próprio umbigo e verem o quanto são responsáveis pela merda em que pisam.