segunda-feira, 10 de março de 2008

Sábado nunca mais!

Ir ao shopping center aos sábados é uma experiência que eu não recomendaria nem ao meu mais feroz inimigo. Bem, talvez a ele sim. Mas não ao segundo mais feroz.

O ambiente é selvagem. E digo isso sem pudor de ferir a pretensa nobre classe que habita essas várzeas. Requer um pouco de esforço mental, mas garanto que é possível imaginar as madames, as patricinhas retardadas, os emos e os playboyzinhos guerreando na fila do Burguer King ou disputando à unha um milk shake no Bob’s. As lojas são intransitáveis - o risco de se ver uma criança perdida é enorme. Eu mesmo, quando piá, me perdi uma vez num shopping. E olha que naquela longínqua década de 90 o crescimento demográfico nem era tão estrondoso assim. Ta, até era, mas a gente sempre vai pensar que “naquele tempo era melhor”, né?

Continuando meu safári, após vencer a luta por um digno milk shake pós-almoço, a batalha seria atravessar o Iguatemi até o Bourbon Country. Os nomes pomposos em nada combinavam com o ambiente. O corredor térreo do Iguatemi parecia mais a Andradas em horário de pico. O ar condicionado simplesmente não vencia a avalanche de bafos, respiros e suores que impregnava o ambiente. A passagem de um shopping a outro, atravessando uma avenida de duas mãos, poderia ser facilmente confundida com a Esquina Democrática. Não fossem, é claro, os perfumes caríssimos, os saltos altíssimos e os narizes empinadíssimos que por lá transitavam. E faltava, também, alguém distribuindo panfletos e gritando palavras de protesto num megafone velho.

Mas o dia não terminou por aí. Apesar de todas essas intempéries, ainda tive a brilhante idéia de ir ao cinema. Não podia ter sido mais infeliz. Fila enorme para comprar ingressos, fila enorme para entrar e paciência maior ainda para assistir ao filme. Sim, pois uma manada de uns 20 (verdade, eram em torno de 20!) pré-adolescentes invadiu a sala. Armados com pipocas barulhentas, bonés virados para trás e minissaias hereges - além do timbre nocauteante típico de todos os jovens de 13 anos -, eles subiam as escadas como se fossem os donos da sessão. Demoraram os 10 minutos que precedem o começo do filme apenas para escolher suas nobres acomodações. Os 10 minutos iniciais foram regados a gritos, risinhos e toda sorte de espalhafatos. Não deu outra, o segurança do cinema foi até lá chamar a atenção dos pobres anjinhos. A medida funcionou por uns 15 minutos. Após a primeira cena de susto, mais gritos e brincadeirinhas típicas daquela fase retardada da adolescência. E, dessa vez, deu briga. “Pô, dá pra calar a boca aê?!”, gritou uma mulher, em alto carioquês. “Respeitem os outros que estão tentando ver o filme”, continuou. No mesmo instante, dois seguranças robustos sobem os degraus e ameaçam expulsar o primeiro que soltar o próximo risinho aparentemente inocente. A sessão transcorreu em relativa harmonia até o final. “O orfanato” nem é um filme tão bom assim. Aos moldes de “Os outros”, o longa mistura espiritismo com uma boa dose de suspense e alguns sustos esporádicos. O final até que é interessante.

Após esse dia atípico, na volta para casa, ao pensar num chuveiro, numa cama e na perspectiva de uma comida caseira, podia ouvir a música ecoar em meus ouvidos: “estou a dois passos do paraíso”. Voltei à toca com duas certezas em mente. Gustave Le Bon estava certo quando teorizou que as massas são bárbaras e irracionais, e os sábados não foram feitos para serem passados no shopping!

9 comentários:

Luana Duarte Fuentefria disse...

"Armados com pipocas barulhentas" é ótimo!

Bem se vê que tu nunca foi no Praia de Belas, em qualquer dia que seja. Um dia te levarei no Praia num sábado de passe livre. Isso sim deixaria Le Bon felicíssimo por sua teoria!

Carolina Tavaniello P. de Morais disse...

Isso porque tu não vai no Praia de Belas. É bem pior, pode acreditar. A próposito, eu estive no Iguatemi e no Country sábado e não achei nada absurdo. O mesmo de sempre, mil pessoas. Mas acredite, o Praia de Belas é realmente insuportável em dias atípicos.
Beijos

Samir Oliveira disse...

Gente, é que eu sou um moço do interior! Não estou acostumado a um fluxo tão grande de pessoas!

Ah, e eu já fui sim no Praia em dia de passe livre. Assustador mesmo, mas naquela época eu não tinha blog :(

Anônimo disse...

Assustador é apelido! Eu já decidi uma coisa: não saio de casa em dias de passe livre. Ficar amassada no D43 de tardezinha já me basta. Detalhe: ônibus sem ar-condicionado e que recolhe toda galera do campus do vale da UFRGS e pessoal da PUC.
Também sou interiorana e não me acostumo com essas multidões avassaladoras hehe!
Bjo!

Alexandre Carvalho disse...

Oi, Samir. Obrigado pela visita ao Tudo em Pauta. Daqui a pouco responderei teu comentário lá. Um abraço.

Liza Mello disse...

ui ui Gustave Le Bon! SAMIR, só pq eu vou pra Buenos Aires tu quer pegar o meu lugar de francesinha famequiana?? hehehe

adorei a comparação com a esquina democrática!

Anônimo disse...

almoço em shopping é algo que não suporto mais. temo virar um misantropo.

Rô Peixoto disse...

Adorei "ouvir" a palavra piá e carioquês... a primeira por me remeter ao RS e a segunda por me remeter ao RJ...

Daqui a pouco serão contratadas mulheres para comprar cabelo e distribuir propaganda de fábricas de calcinhas aos sábados!
E se nos elegantíssimos shops já viram várzea... imagina o Praia de Belas!!!!
Beijos!

Eliane! disse...

Faz muito tempo que não vou ao Praia de Belas. Mas, parece que o motivo pelo qual "larguei" o lugar, continua.Na verdade, não freqüento shopping...

Eu passo pelo mesmo problema da Ananda. De manhã e de tardezinha. Fico mais amassada que sardinha no D43. É terrível. E as pessoas não tem consideração de te ver com uma pilha de livros na mão e nem se oferecer pra segurar. Mundo ingrato.

P.S: Ah, também sou mais uma interiorana por aqui hehehe

teus textos são ótimos! muito bom o blog :)