terça-feira, 13 de novembro de 2007

Crime feminino

Se eu fosse mulher, seria uma ladra. Uma assaltante de bancos, mais especificamente. As mulheres são tolas, ainda não perceberam o enorme potencial que possuem. Há todo um nicho mercadológico feminino para as que quiserem seguir carreira.

Aconteceu ontem, antes de ontem e sempre. Vem acontecendo há um ano, desde que abri contas em duas redes bancárias do país. Primeiro, vem o apito. Em seguida, uma voz metálica e acusadora denuncia: “Você está portando objetos metálicos, coloque-os no compartimento ao lado e tente novamente.” Mas as chaves e o celular já estão no tal compartimento. O que é que falta, afinal? É aí que acontece. Abro a mochila e, não satisfeitos, os seguranças ordenam que eu folheie o caderno e revele tudo o que há nos seus compartimentos. Todas as folhas soltas e amassadas, os pacotes de chicletes e bolachas recheadas são expostos. Livros, contas para pagar, nada passa despercebido ao olhar atendo dos guardas. “Tudo bem”, penso, “afinal é o procedimento padrão deles, é para a segurança do banco”. Após o penoso processo, que provavelmente irrita a todos os que estão esperando, posso finalmente entrar no paraíso capitalista.

O clima de uma agência já não é muito confortável. Aquele cheiro de ar artificial, os caixas milimetricamente organizados e o excesso de sinalização produzem um misto de segurança e desconforto. Como se tudo estivesse perfeito, esperando por você. Até cafezinho eles oferecem! Até você fazer sua conta, é claro.

Mas a surpresa maior é a facilidade com que as mulheres têm acesso ao local. Se a voz acusa que um homem está portando objetos metálicos, ocorre todo o criterioso método já descrito para a revisão. Entretanto, se uma mulher é denunciada, o segurança lança um olhar complacente e permite que a dama se dirija ao balcão de atendimento. A revisão, no máximo, restringe-se a uma olhada não muito discreta nas curvas suntuosas da fêmea, se ela as possuir, é claro. Ela poderia facilmente portar uma arma e mesmo assim entrar. Idosas, então, sequer são olhadas. Passam direto, como se a porta não existisse. Imagine, se eu fosse uma velha, ganharia a vida assaltando bancos. Sem mais problemas financeiros. Afinal, quem suspeitaria de uma senhora aparentemente inocente ou das curvas bem delineadas de uma jovem estagiária? E as mulheres ainda reclamam mais direitos! Já possuem até o direito de roubar! O que mais falta reivindicar? Ainda bem que não se dão conta do poder que têm nas mãos. Ou melhor, nas curvas. Caso contrário, nem a década de 70 veria tantos assaltos a banco. Seria o fim do capitalismo moderno.

Estupefato, resigno-me a minha inferioridade de macho. Espécie recessiva e minoritária. Falho de curvas suntuosas e de regalias em agências bancárias. Eternamente sujeito a humilhações mochilescas para poder pagar uma conta.

9 comentários:

Carolina Tavaniello P. de Morais disse...

Só tu pra bolar um texto desses né Samir...me divirto!!! hehehe
adorei!
beijo

Liza Mello disse...

HAHAHA

muito bom... é..essas humilhações mochilescas são para os machos... a não ser que nós, mulheres, estejamos na puc, na qual encontramos uma categoria superior: os professores. É só aparecer uma manchinha de giz na roupa do indivíduo que eles têm passagem livre!! e preferência na fila!

ps: antigamente tinha em porto alegre uma gangue de velhinhos.

Luana Duarte Fuentefria disse...

Ai ai... não sabia que cérebro privilegiado agora se chama "curvas". hehe

Agora descobri a razão de não gostar de agências! Muito bom.

Rô Peixoto disse...

Sorte que as mulheres são mais honestas!!
Além de mais inteligentes!

Beijos!

Anônimo disse...

Bá Samir... espero que teu texto seja irônico e que os conceitos/preconceitos que constam dele não sejam a tua verdade. Exitem várias questões de gênero que estas atropelando neste texto. Parece um texto ingênuo e não é. Cuidado!

Samir Oliveira disse...

Giselda, o texto todo é uma grande brincadeira :)
Apenas me aproveitei de uma situação que de fato acontece (ao menos comigo) e alegorizei em um texto (um tanto quanto machista, é verdade). Mas eu não penso, de maneira nenhuma, que o artifício maior da mulher são as curvas. Como disse, apenas relativizei e brinquei com a situação. Reconheço que esse estilo irônico e jocoso pode mesmo ser perigoso se levado a sério e pode propagar alguns terríveis estereótipos. Valeu pela orientação.

Anônimo disse...

Ok. Sem mais delongas...fico satisfeita em saber que foi um escorreg�o. Gosto de ler teus textos porque mostram o cotidiano, com teu posicionamento cr�tico. Este sem d�vida escorregou no final, seguindo os velhos cliches e esteriotipos que n�o ajudam em nada a luta das mulher para reconhecimento do seu trabalho e da sua luta cotidiana em um mundo feito para os homens. Estou escrevendo aqui pq n�o tenho teu email. um abra�o

Anônimo disse...

samir! bolacha recheada????? tu já tá bem grandinho...
:o)

Samir Oliveira disse...

Vitor!! Parece o meu pai falando.. :( sou uma eterna criança quanto aos hábitos alimentares