segunda-feira, 2 de julho de 2007

"Não tinha um melhor, não?"


Na última quinta-feira, 28, realizei um pequeno desejo: ver Batismo de Sangue no cinema. Peguei a primeira sessão, logo após as 13h. Como sempre, filmes brasileiros ficam relegados à pequena sala oito de um certo multiplex porto-alegrense. Claro, as outras salas já estão majestosamente ocupadas por produções gringas. Não que eu pregue a abolição hollywoodiana do Brasil. Apenas acho que o cinema nacional merece maior destaque (por parte do público, principalmente).

Enfim, voltando ao assunto: Batismo de Sangue é um filme tenso. Bem, um filme que trata da ditadura militar brasileira e não é tenso, não é digno de abordar tal assunto. E O ano em que os meus pais saíram de férias? A beleza estética e a inocência dessa obra dispensam quaisquer menções aos governos militares.

A sessão das 13h10min estava vazia, contando apenas com umas quatro pessoas. Um casal, eu e uma senhora sentada bem ao fundo. Enfim, começa o filme. A primeira cena me dá náuseas, mas sigo em frente. Quero entender o que houve, que cadeia de acontecimentos desembocou naquela cena cinza e sem esperanças. Tá, eu poderia ter lido o livro de Frei Beto, obra homônima na qual Helvécio Ratton se baseou para fazer o filme. Mas aí não teria graça.

Eu queria ser surpreendido do começo ao fim. E foi exatamente isso que aconteceu. Caio Blat e Daniel de Oliveira estavam ótimos. Principalmente o primeiro, no papel de Frei Tito. O ex-cazuza, agora encarnado na pele de Frei Beto, também se saiu bem, mas deixou a desejar. Acho que o talento do colega e o peso de seu personagem fizeram com que eu esperasse mais de sua atuação.

Ai, não acredito! Realmente mostraram aquilo? Cenas de tortura escancaradas na tela! Fechei os olhos, mas os gritos ainda ecoavam no ambiente, como se implorassem para serem ouvidos. É hipocrisia minha tampar a visão. Estou vendo um filme sobre a ditadura e quero negar toda a crueldade daquele período? Era uma questão de honra engolir aquelas imagens. Têm um gosto amargo, mas descem.

Ao terminar o filme, saí contente, apesar de tudo. Desconhecia a participação de frades dominicanos na luta contra a ditadura e me interessei mais sobre o tema. As imagens pesadas foram uma espécie de lição. E demonstram, também, um certo amadurecimento tardio da população brasileira. Parece que só agora, 21 anos depois, é que estamos preparados para ver os horrores que à época passavam camuflados nas vestes militares.

Mas, ainda na saída, um comentário alfinetou minha indignação. “Não tinha um filmezinho melhor, não ein?”, perguntou a moça da frente ao seu companheiro. Realmente, entre Shrek e Piratas do Caribe, não havia muitas opções. Recomendei Caparaó.

Imagem: divulgação do site oficial

10 comentários:

Liza Mello disse...

ai, samir! achei tri bom! e acho que não trancou entre no segundo parágrafo.
essa senhora... me soa familiar.. hehe

Rô Peixoto disse...

Ai Sammy, queria eu ter mais tempo para ler todo o teu blog! E fico eu, me sintindo uma desatualizada, tanto nos termos blogísticos, quanto no cinematográfico (eu ia escrever filmístico, mas lembrei que já existia uma palavra para designar o que eu queria dizer)!

Realmente, o publico brasileiro não dá valor ao cinema brasileiro, que está muuito bom. Chegando a ter 3 ou 4 estréias no mesmo mês! E com qualidade de filmes europeus, e quem sabe, hollywoodianos! E aprender mais sobre a cultura do nosso país, sobre suas histórias, sempre é bom!

O Brasil ainda não está pronto para ver o que aconteceu na época da ditadura. O povo ainda fecha os olhos nas cenas de tortura (nenhuma crítica contra tu ter fechado os olhos, heheh)! Prefere não enxergar como foi pra poder pensar que "naquela época é que era bom! sem violência".

Bom Sammy... agora que vou entrar de ferias, vou tentar vir aqui e ler tudo o que tu escrever, e tudo o que ficou pra trás!
E vou tentar atualizar o meu empoeirado blog!!

Beijos!!!

Luana Duarte Fuentefria disse...

Ah! Eu vi tu publicando isso na aulinha do Pellanda!!! heuheue... fiquei curiosa e vim dar uma espiada...

To louca pra ver esse filme! Deve ser maravilhoso!
Vou ver e depois te conto.

Carolina Tavaniello P. de Morais disse...

Eu quero veeeeeeer. A parte da história brasileira que mais me interessa é a Ditadura Militar.
E concordo que os filmes brasileiros devem ser melhor valorizados, especialmente, pelo público.
Ah. Atualizei o meu (aleluia)
Beijos.

Giane Laurentino disse...

Oi! Sabe que vou ver esse filme no cinema,gosto muito do Caio Blat, sempre o vejo em atuações irretocáveis! Adorei a resenha, só me despertou mais a curiosidade. Os outros textos que li e adorei!
Bjus

vitor disse...

ao contrário da argentina, que tenta sem parar exorcizar sua ditadura militar através de filmes, livros e mobilização - acho comovente as mães da praça de maio -, o brasil é mais tímido. claro que há obras sobre o tempo em que militares travestidos de políticos mandavam no país, mas parece que ainda não temos uma obra que dê conta do arbítrio, que dimensione a tragédia de uma país que tem a baioneta cravada no mapa. pois bem, terei que ver este filme.

Ananda Etges disse...

Gostei muito do texto!
"...os gritos ainda ecoavam no ambiente, como se implorassem para serem ouvidos."
Que frase hein colega!
Bom, queria aproveitar e avisar que atualizei meu blog e coloquei um link para o teu lá!
Beijo e boas férias!

Carolina Tavaniello P. de Morais disse...

Vamos atualizaaaaar
hehehe

Liza Mello disse...

SAMIR VERÍSSIMO!!
cadê o tradicional texto de segunda-feira?! tsc tsc...

:))

Unknown disse...

Samir

tava navegando pela internet e cai no seu blog.

tbm acho q o cinema nacional deveria ter mais destaque. As pessoas deixam de ver o filme so pelo fato de ser brasileiro

Sou de Minas, Ator e ja trabalhei com O Helvécio q é otimo diretor, pois consegue mostrar o q quer para os atores sem ser autoritario.

Para os fãs de seu trabalho, no primeiro semestre de 2008 estreia PEQUENAS HISTORIAS. Em q o Helvécio volta sua atenção para o publico infantil, mas é um filme q com certeza vai agradar os adultos tbm. Conta 4 historias comuns de serem contadas em rodas de amigos de cidades do interior. Bem estilo Helvécio q sempre tenta mostrar um pouco de minas para os espectadores.
Então não deixem dever Pequenas Historias, com Marieta Severo, Patricia Pillar, Paulo José, Edyr Duque, tbm comigo
hehe Edgar Quintanilha
abraços