quinta-feira, 10 de maio de 2007

Uma geléia de destaque

Com apenas seis meses de existência, ela já está dando o que falar. Pioneira no Brasil, a revista Piauí superou as expectativas de circulação de seus próprios produtores. Uma publicação que se propõe a levar mais texto do que foto, mais forma do que fato e mais contexto do que superficialidade só poderia tomar dois rumos: ou fracassar vertiginosamente, ou ascender. Ao que tudo indica, mesmo em uma sociedade regida pelo espetáculo e pela ditadura das imagens, ainda há espaço para um entretenimento de qualidade.

Inspirada principalmente na revista New Yorker, a Piauí (fruto da obstinação do documentarista João Moreira Salles) é um produto totalmente inovador nas bancas brasileiras. À primeira vista, já chama a atenção pelo tamanho. Maior do que as demais publicações, a Piauí suporta mais textos e melhores inovações gráficas. Seu formato, porém, não é novo. Vem de antigas revistas como O Cruzeiro e Manchete.

A lista de peculiaridades não se restringe a aspectos físicos. Com a proposta de explorar mais os textos, esteticamente e em termos de conteúdo, a revista não segue os moldes reinantes nos grandes periódicos – jornalísticos ou de entretenimento. Sua organização, como lembra Moreira Salles em palestra à Faculdade de Comunicação Social da PUCRS, é totalmente anárquica. Não há editorias fixas nem colunistas. Não são feitas reuniões de pauta e tampouco os assuntos tratados possuem um critério concreto.

Mas, talvez, a maior ousadia da Piauí seja a de não chegar antes. A revista não almeja “furos” (divulgar em primeira mão um acontecimento) ou exclusividade de informação. Ela fornece, sim, a informação sobre determinado assunto em todos os seus aspectos, inclusive os mais estranhos. O contexto que norteia um fato é amplamente exposto, o que possibilita que o leitor analise bem o conteúdo. Isso se deve unicamente ao tempo de apuração de uma matéria. Enquanto a imprensa tradicional disponibiliza, quando muito, uma semana para a conclusão de uma reportagem, a Piauí dá a seus repórteres um mês ou dois para que eles façam seu trabalho. O tempo não é fixo. As reportagens levam o tempo que for necessário para que fiquem completas.

Uma revista como essa, com tantas especificidades, não é barata de se produzir. Moreira Salles, idealizador do projeto, sentia falta desse tipo de publicação no Brasil. Ele afirma que a Piauí tem capital para sobreviver por dois anos, independente de sua aceitação nas bancas. Entretanto, tudo indica que há público para um projeto tão “na contramão” como a Piauí. As tiragens já alcançam a marca dos 30 mil exemplares mensais (10 mil apenas de assinantes). Ao que parece, vai dar certo.

Ludicamente, ele afirma que o objetivo principal da revista é retratar “essa grande bagunça que é o Brasil”. Misto de diversão, deboche, análise, cultura e informação, a Piauí é, nas palavras de seu criador, “uma geléia”. Com certeza, essa geléia merece lugar de destaque na mesa dos leitores.

Um comentário:

Unknown disse...

Atualiza, atualiza, atualiza, atualiza...Atualiza, atualiza, atualiza, atualiza...Atualiza, atualiza, atualiza.

ATUALIZA!